Ouvidoria inicia comemoração do 8 de março com palestra de Marilene Depes sobre história da luta feminina por direitos
A feminista e ativista cachoeirense Marilene Depes, presidente do Conselho Municipal da Mulher, palestrou nesta terça-feira (07) na Câmara de Cachoeiro sobre “A evolução das lutas femininas no decorrer das décadas”. A palestra integra a programação organizada pela Ouvidoria da Mulher da Câmara Municipal de Cachoeiro, em comemoração ao 08 de março, Dia internacional da Mulher. “Nossa intenção é colaborar para conscientizar e incentivar a participação feminina na política e na defesa dos seus direitos, onde o lugar de fala é principalmente delas”, diz o ouvidor da mulher na Câmara, vereador Arildo Boleba (PDT).
Da submissão à conquista de direitos
Marilene Depes iniciou sua fala destacando que a mulher luta por seus direitos há seiscentos anos. Na sociedade primitiva, destacou, a descendência era definida pela linhagem feminina, já que a mulher era considerada mais poderosa que os homens, pois gerava vidas. “Neste momento histórico, os homens não sabiam que tinham participação nisso, e por isso a mulher era respeitada e reverenciada”, afirma.
Segundo a ativista, o grande divisor na vida das mulheres ocorreu ainda na pré-história, quando o homem deixou de ser caçador e coletor, atividades que dividia com as mulheres, e passou a ser agricultor e a domesticar os animais, o que fez com que elas permanecessem em casa, cuidando das crianças e das atividades domésticas. “Podemos dizer que um dos animais domesticados foi exatamente a mulher”, ironizou.
Já na Antiguidade, com o apogeu das civilizações egípcias, gregas e romanas, as mulheres passaram a ser consideradas meras reprodutoras de filhos, além de serviçais e prostitutas. Na Idade Média, aceitaram que se tornassem artesãs, mas com a autorização dos maridos. E durante a Inquisição, entre os séculos XII a XVIII, aquelas mulheres que se destacam em qualquer atividade, especialmente na produção de medicações para a cura de doenças, eram consideradas bruxas e queimadas vivas.
Marilene explicou ainda que a situação começou a mudar a partir da Revolução Francesa, em 1879, com o surgimento dos princípios da fraternidade, liberdade e fraternidade. Nessa época foi criada na França a Declaração dos Direitos dos Homens e dos Cidadãos, e as mulheres também tiveram espaço para criar uma Declaração dos Direitos das Mulheres. Já a Declaração Universal dos Direitos Humanos, criada pela Organização das Nações Unidas, surgiu apenas em 1948.
A luta no Brasil
Mostrando a cronologia da conquista de direitos no Brasil, Marilene destacou algumas datas: em 1827, as mulheres foram autorizadas a estudar; em 1852 surgiu o primeiro jornal feminino, com receitas, modas e amenidades; em 1879, elas obtiveram o direito de frequentar a faculdade; em 1932, conquistaram o direito ao voto; e em 1933 foi eleita Carlota Pereira, a primeira deputada federal brasileira.
Mas foi apenas a partir da década de 60, com o surgimento da pílula anticoncepcional e a chamada revolução sexual, que a luta feminista ganhou força e a mulher passou a conquistar mais espaços na sociedade. No Brasil, este momento foi marcada pelo caso Doca Street, um playboy milionário que assassinou sua companheira Angela Diniz. Considerado praticamente inocente no primeiro julgamento, sob a justificativa da “legítima defesa da honra”, Doca viu mulheres se indignando e tomando as ruas, o que o levou a um novo julgamento e à condenação a 15 anos de prisão.
A luta das mulheres continuou: em 1977, o divórcio foi legalizado, libertando as mulheres de casamentos opressivos; em 1979, passaram a ter direito a jogar futebol; e em 1988, com a nova Constituição brasileira, passaram a ter todos os direitos já garantidos aos homens.
Fechando sua palestra, Marilene lembrou ainda da criação da Lei Maria da Penha, em 2006; da Lei do Feminicídio, em 2015; e da lei que tornou crime a importunação sexual feminina, em 2018. Destacou que em Cachoeiro há vários órgãos de proteção à mulher e reiterou seu pedido à Câmara de que ajude a lutar pela criação de uma casa de apoio à mulher vitima de violência.
“Apesar desses avanços, ainda temos muito a conquistar. Por isso, 8 de março não é dia apenas de dar florzinha. O que nós queremos é direitos iguais e respeito. Toda mulher já foi assediada em sua vida e não denunciamos por medo de sermos julgadas pela sociedade e sermos responsabilizadas por crimes dos quais somos vítimas”, finalizou.