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Muito conhecimento, partilha de experiências e confraternização marcaram a Semana da Mulher 2023 na Câmara

por Camila Reis publicado 10/03/2023 15h37, última modificação 10/03/2023 15h37

Ao invés de um único dia, a Ouvidoria da Mulher da Câmara de Cachoeiro promoveu uma programação, em comemoração ao Dia Interacional da Mulher, iniciando na sessão ordinária de terça-feira, 07 e finalizando na quinta, 09. Foram quatro palestras, com coffee break e sorteio de brindes nos intervalos, e uma ação social no último dia, quando as servidoras da Câmara e visitantes puderam fazer uma pausa para relaxar. Ativistas, participantes de conselhos, sindicatos e diversas outras mulheres estiveram presentes no evento, além do público interno.   

“Estamos muito felizes com tudo isto. Quem participou, pôde aprender muito com mulheres que têm uma história magnífica. Agradecemos imensamente a disponibilidade da Marilene, da Iza, da Anete e da Elizangela. E agradecemos também à equipe da Embeleze e a Aline Rainha, que proporcionaram esse momento relax. Ser mulher não é só luta, né? Elas merecem!” comemorou o vereador Arildo Boleba (PDT), ouvidor da mulher na Câmara. Durante o evento, o vereador agradeceu também aos patrocinadores, que disponibilizaram os presentes sorteados, e a assessoria da ouvidoria e dos gabinetes, responsáveis por toda a organização.  

Aprender sobre o passado para aplicar no presente

Na tarde de terça, 07, a palestra que abriu o evento foi da feminista e ativista cachoeirense Marilene Depes, presidente do Conselho Municipal da Mulher, com o tema “A evolução das lutas femininas no decorrer das décadas” (Leia mais AQUI).

Na manha de quarta, após um momento de acolhida, oração e louvor conduzido por assessores da Câmara, a palestrante foi a jornalista Anete Lacerda, coordenadora da União Cachoeirense de Mulheres. Com o tema “A violência que nos atravessa no século XXI”, fez os presentes pensarem sobre as diversas formas de violência e abuso que as mulheres sofrem e, muitas vezes, sequer conseguem identificar.

Lembrando sua criação evangélica, Anete atraiu a atenção do público já no início da palestra com o vídeo clipe “Respeita”, no qual Ana Cañas canta o refrão “Ela vai, ela vem/ Meu corpo, minha lei/ Tô por aí, mas não tô à toa/ Respeita, respeita/ Respeita as mina p*” e 86 mulheres participam das imagens. “Nos choca ver uma mulher xingando. Os homens podem, mas mulheres são mal vistas, mal interpretadas, desrespeitadas se usarem palavras de baixo calão. Nossa cultura e criação nos ensinou que isto não é coisa de mulher, que é feio, vulgar. E nós não percebemos que estão nos restringindo, nos subjugando desde as pequenas coisas”, compartilhou.

Mostrando que a violência sofrida pelas mulheres não é apenas física, além de apresentar fatos e dados estatísticos, frases foram distribuídas entre a plateia para que, quem as pegasse, pudesse falar sobre o tipo de situação apresentada.

“No trabalho, o colega de trabalho se apropria da sua ideia, que foi discutida em reuniões de planejamento, e leva os créditos por ela.” “A mulher é chamada de louca quando ‘ousa’ expor suas ideias. E esse abuso psicológico é tão violento que ela acaba duvidando da própria certeza.” “Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher.” “Ruim com ele, pior sem ele.” “Não sou feminista. Sou feminina.” “Apanhou porque mereceu.” “Com essa roupa, queria ser estuprada.” Partindo dessas frases, o próprio público foi confirmando o quanto casos de violência psicológica, moral, financeira, dentre outras, além da sexual e dos casos de feminicídio, estão, ainda neste século, muito presentes no nosso dia a dia.

“É difícil conversar com uma mulher adulta que nunca sofreu nenhum tipo de abuso. Todas nós, se não sofremos, conhecemos alguém próxima que sofreu. E os abusadores sempre são homens. Cabe a todos nós educar nossos filhos para que um dia, não sei quando, não sei se neste século, os homens parem de nos matar”, finalizou.

Ainda na quarta-feira, a programação teve continuidade com as palestras da psicóloga Iza Karla Reis sobre “A importância da saúde mental das mulheres” e, em seguida, com a ativista e assessora parlamentar da Assembleia Legislativa do Espírito Santo, Elizângela Altoé, que falou sobre “A participação da mulher na política”.

Palestrante Elizângela

Iza abriu sua fala apresentando índices sobre enfermidades que acometem as mulheres. Segundo ela, as mulheres são as que mais adoecem, inclusive em relação à saúde mental. Sintomas e diagnósticos de transtornos como depressão e ansiedade em mulheres chegam a ser o dobro dos registrados entre os homens.

Não por acaso, aponta a psicóloga, diferente do que ocorre com os homens, além de trabalharem fora de casa as mulheres realizam múltiplas tarefas domésticas, sendo responsáveis pelos cuidados com a casa e de todos os entes familiares – filhos, companheiros e pais idosos ou doentes. “Por isso, quase nunca encontramos tempo para cuidar de nós mesmas, e é isso que nos leva ao desgaste e às doenças físicas e mentais”, alerta.

Iza diz que, muitas vezes, buscar ajuda de um profissional da área, como psicólogos e psiquiatras, é fundamental, mas há algumas medidas que as próprias mulheres podem tomar para amenizar essa situação. Entre elas, aprender técnicas de respiração, para evitar a ansiedade; praticar atividades físicas; criar uma rotina que lhes permita administrar seu tempo; e, especialmente, reservar momentos para o lazer e para cuidar de si mesmas. Um dos cuidados destacados pela psicóloga é a ida periódica a um ginecologista, que poderá identificar condições como o deficit hormonal, que influencia na saúde mental.

“Também é importante que sejamos mais companheiras umas das outras: muitas vezes a mulher precisa de um elogio e um incentivo, para continuar seu caminho com mais leveza. Palavras boas geram coisas boas, e todo bem que fazemos volta para nós. E, por fim,  a mulher precisa aprender  a se cobrar menos e se perdoar mais. Pare e dê uma chance a si mesma”, recomenda a psicóloga.

 

Participação política

Elizângela Altoé, ao palestrar sobre “A participação da mulher na política”, lembrou que as brasileiras lutaram por 400 anos até conquistarem o direito ao voto, o que ocorreu em 1932.  “Isso é um reflexo da nossa cultura, que é machista, dominadora e de posse sobre nossas mulheres”, afirma, mostrando que ainda hoje, embora sejam a maioria da população e 53% do eleitorado brasileiro, as mulheres ocupam apenas 33% das candidaturas a cargos políticos e 15% do total de eleitos.

 A baixa participação política das mulheres brasileiras fica ainda mais explícita em estudo realizado pela Organização das Nações Unidas em 2020, em que o Brasil ocupa a 139ª posição entre 193 países do mundo. Segundo ela, a sobrecarga de tarefas domésticas é uma das causas do afastamento das mulheres da política. “Não temos o mesmo tempo que os homens têm para se dedicar a fazer política”, diz. Essa situação, abarcada pelo machismo que atinge todas as esferas da sociedade brasileira, faz com que a mulher acabe se restringindo aos espaços privados, favorecendo a ocupação dos espaços públicos pelos homens.

A exposição e o julgamento social que atingem as mulheres também colaboram para reduzir o seu interesse pela política. “Nossa competência é questionada o tempo todo, assim como a nossa capacidade de conciliar o fazer político com os cuidados domésticos, como se isso fosse uma obrigação apenas nossa. Até mesmo nossas roupas e aparência física são julgadas”, protesta.  Segundo ela, o combate ao machismo é fundamental para a criação de uma sociedade mais plural e igualitária, o que somente ocorrerá com a maior participação da mulher na política.

Elisângela destacou ainda que a política é muito mais do que o processo eleitoral. “É preciso ocupar todos os espaços públicos de poder com a nossa vivência e o nosso olhar sensível aos problemas sociais, pois apenas isso nos dará condições de criar políticas públicas que atendam as nossas demandas e da comunidade como um todo”, afirma Elisângela, finalizando sua palestra com uma frase da ex-presidente chilena Michelle Bachelet: “Quando uma mulher entra na política, muda a mulher. Quando muitas mulheres entram na política, muda a política”.

Confira AQUI as fotos do evento