Comissão Covid: Justo fala sobre vacinação e atividade econômica
A Comissão de Acompanhamento, Monitoramento e Enfrentamento à Covid-19 da Câmara de Cachoeiro recebeu nesta segunda-feira (03) o superintendente regional de saúde no sul do estado, José Maria Justo. A comissão é composta pelos vereadores Delandi Macedo (PODE- presidente), Junior Corrêa (PL-relator), Alexandre Andreza Macedo (PSB) e Mestre Gelinho (PSDB), e trabalha em parceria com a Comissão de Saúde da Câmara, também presidida por Delandi e composta ainda por Marcelinho Fávero (PL), Paulo Grola (PSB), Ely Escarpini (PV),Sandro Irmão (PSD) e Silvinho Coelho (Republicanos).
Justo iniciou sua fala explicando as medidas adotadas pela superintendência em parceria com as secretarias municipais de saúde. Segundo ele, ainda não há medida mais eficaz de rompimento da cadeia de transmissão do que a testagem, que pode levar os pacientes ao isolamento. Hoje, utiliza-se em grande escala o teste RT-PCR, cujo resultado pode demorar de 6 a 24 horas para ser conhecido.
O objetivo do planejamento, segundo o superintendente, sempre é mitigar os efeitos da pandemia, garantindo que a rede hospitalar tenha condições de receber todos os pacientes que precisarem. Por isso, o governo tem como estratégia abrir novos leitos em todas as regiões, à medida que a pandemia avança. Hoje, o sul possui 187 leitos de enfermaria e 191 leitos de UTI para tratamento de Covid – dos quais 89 foram abertos nos últimos dois meses.
“Vivemos a terceira onda, com o aumento assustador de casos e da taxa de transmissão no mês de março. Abril foi um mês terrível, com 283 óbitos”, avaliou, acrescentando que a transferência de pacientes para outras regiões é penoso para o doente e para o sistema, mas às vezes é necessário. De modo geral, disse, a região sul tem mantido a taxa de ocupação de leitos em torno de 86%, havendo sempre pelo menos de 10 a 15 leitos de UTI disponíveis, e um número um pouco maior nas enfermarias. Segundo ele, os leitos serão mantidos mesmo com o abrandamento da pandemia.
Para reduzir o contágio e a demanda por internações, o superintendente defendeu a necessidade de medidas mais extremas de controle da interação social lembrando que elas, embora assinadas pelo governador, são pactuadas pelos três poderes, com apoio dos gestores municipais. Para ele, um ambiente de convergência, de debate aberto, ajuda o estado a vencer a doença.
“O enfrentamento à pandemia precisa se pautar em três pontos: medidas extremas de controle da interação social, vacinação da população idosa e adulta e a capacidade de convergir no entendimento sobre o que estamos enfrentando e sobre quem é o nosso verdadeiro inimigo, sem pensamentos ideológicos e revanchistas”, disse ele.
Quarta onda
Os vereadores presentes à reunião fizeram questionamentos prontamente respondidos pelo superintendente. O presidente da Câmara, vereador Brás Zagotto (PV), perguntou sobre as perspectivas de final da crise. Justo avaliou que o SUS tem as condições para realizar a vacinação da melhor forma possível, com os insumos e as condições disponibilizadas pelo governo federal. “Se tivéssemos a vacina, todos os brasileiros já estariam vacinados. Mas, se não vacinarmos a população muito rapidamente, e a depender da disciplina social, corremos o risco de viver a quarta onda a partir de junho, muito mais letal e desumana afetando adultos jovens e pessoas ativas, que estão circulando”, alertou.
Kit intubação
Respondendo ao vereador Junior Corrêa sobre recentes rumores da falta do kit intubação, apesar da aquisição de 18 mil unidades pelo governo estadual, Justo esclareceu que os medicamentos não chegaram a faltar. O que ocorreu é que o hospital de Itapemirim anunciou que seu estoque estava no final, e, após algumas horas, foi feita a reposição, sem prejuízo de qualquer atendimento.
Ele também aproveitou para esclarecer que a dificuldade de planejar o número necessário dos kits tem aumentado, pois nesta terceira onda o perfil da doença mudou: o tempo de internação é maior e estão sendo atingidas pessoas mais jovens e obesas, que precisam de mais medicamento. Além disso, houve um aumento radical e muito repentino da necessidade de intubação e, portanto, do consumo de medicamentos. Ele ainda informou que, para que os hospitais possam cobrir esses novos custos, bem como o aumento das despesas médicas, o governo do estado está pagando um valor maior pela diária do leito de UTI.
Tratamento precoce
Já o vereador Marcelinho Fávero, apesar de reconhecer a liberdade que o médico tem de prescrever, questionou ao superintendente se não seria o caso de abrir um diálogo mais profundo com os profissionais sobre o uso de medicamentos para o chamado tratamento precoce, pois, segundo ele, até hoje “a ciência não pode dizer nada de nada. Então, acho que o profissional devia tentar algo. Não tentar é uma covardia”, disse.
Para Justo, no entanto, não há vazio de recomendação técnica, pois existe um protocolo de tratamento definido pela Secretaria Estadual de Saúde. Segundo ele, os médicos avaliam se os benefícios que determinado medicamento trará ao paciente são maiores que os riscos. No caso do tratamento precoce, não há nenhuma garantia de benefício, e o médico pode expor o paciente ao risco e ser penalizado. “Por isso, é o médico que escolhe se prescreve ou não”, afirmou.
Horário do comércio
O presidente da Comissão Covid, Delandi Macedo, mostrou sua discordância em relação à diminuição dos horários do comércio imposta pelo governo estadual, já que isso aumenta a aglomeração de clientes, bem como a redução do número de ônibus aumenta a aglomeração de passageiros. Justo afirmou que essa linha de raciocínio pressupõe “um conjunto de seres ingovernáveis, que não adotam as orientações”, e que o importante dessa norma é que ela ajuda a conscientizar as pessoas sobre a necessidade de reduzir as saídas à rua.
Delandi foi firme ao defender que a conscientização pode e deve existir, mas os horários do comércio e a disponibilidade de ônibus devem ser ampliados. “Se cem mil pessoas têm quatro dias pra fazer sua compras, se elas puderem fazer em sete dias, haverá menos aglomeração”, ilustrou. O vereador também lembrou ao superintendente que a saúde na região sul carece de outros investimentos, inclusive estruturais, pois além da Covid, outras doenças também precisam ser tratadas.
Vacinação
Vários vereadores pediram ao superintendente mais informações sobre os prazos e a logística de vacinação. Justo afirmou que o estado ainda está buscando a possibilidade de adquirir a vacina e, considerando também a perspectiva de envio do governo federal, a perspectiva é de que até o final de julho a população adulta do Espírito Santo esteja toda vacinada. Segundo ele, os profissionais da área já consideram a necessidade de a vacina contra a Covid entrar no calendário anual de vacinação do governo, ou que seja produzida junto com a vacina da gripe, que passaria a ser universal para a população adulta brasileira.
Para ele, não há saída que não seja a vacinação, e é preciso que as lideranças conscientizem a comunidade sobre o que está sendo feito no estado. “Queremos reduzir a contaminação e o número de mortes, e manter a atividade econômica funcionando o máximo possível. A gente vive um momento especial no mundo inteiro, é preciso ter a clareza de entender as dificuldades. Quanto mais se leva o debate para o componente ideológico, mais gente morre”, lamentou.